
Recentemente, o jornalista e escritor José Teles, crítico musical do Jornal do Commércio, de Recife, fez um ótimo artigo sobre o tema. Entre outras coisas, ele diz que esse tipo de musica está tão massificada na cabeça da meninada, que está criando uma perigosa cultura entre eles, na qual mulher é sempre safada e descartável, cachaça é pra beber até cair e carro não é apenas meio de transporte, mas lotação pra encher de raparigas. Ele prossegue dizendo que quando um cantor de uma banda chega a uma praça pública e pergunta se tem “rapariga na platéia”, alguma coisa está fora de ordem. E o que mais preocupa é que essa juventude, que tem a cabeça feita por esse tipo de música (musica?!), brevemente vai tomar as rédeas do poder. Ele está coberto de razão.
Eu cresci numa geração que foi moldada musicalmente pelas ondas do radio. De Orlando Silva até o novíssimo som que vinha de Liverpool, nada escapava ao bom e velho Transglobe Philco, que trazia até o sertão baiano todas as novidades sonoras que rolavam pelo mundo. Mas era o forró que predominava, tanto nas emissoras quanto no serviço de auto-falante de dona Nenê, que só vivia tocando Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e que tais. E só a partir dos anos 70 foi que o forró de duplo sentido começou a fazer sucesso, quando canções como Passei a noite procurando tu e Ele ta de olho é na butique dela estouraram no meio da garotada. Mas, comparadas com as de hoje, elas soam quase infantis.
Sinceramente, não sei até que ponto a música ajuda na formação de um garoto, nem no seu jeito de ser. Mas sei que ela o acompanhará pro resto da vida. Como agora, quando vez ou outra eu me pego assoviando velhas canções juninas, como aquela em que Gonzagão pede ao seu amor para olhar pro céu só pra ver como está lindo.
Já essa turma que abre a mala do carro e obriga toda a vizinhança a ouvir alguém berrando que vai beber cair e levantar me deixa bastante preocupado. Não só pela qualidade das canções que eles levarão consigo, mas principalmente, por que muitos seguem à risca esse horrível refrão e, depois de beber todas, saem dirigindo loucamente pelas ruas, correndo o risco de bater, cair e nunca mais levantar. Definitivamente, isso nunca foi forró. Muito menos o seu propósito.
Texto publicado em A Tarde no dia 12 de junho de 2008 na coluna Opinião pelo escritor Jânio Ferreira Soares(s.janio@globo.com)