Wagner Ferreira
Com a evolução dos meios de comunicação veio a necessidade das grandes empresas que dependem da relação com a imprensa se adaptarem às novas formas de difundir sua imagem.
O grande empresário via a necessidade de falar a mesma língua da TV, do rádio, ou das revistas impressas. Era necessário que sua propaganda chegasse aos noticiários em forma de notícia.
Mas como produzir esses textos jornalísticos se a grande maioria das empresas só dispunha de relações públicas? Precisaria-se de um tradutor, alguém que soubesse como funciona a redação de um jornal, e o que lhes interessavam como notícia. Este profissional é o assessor de imprensa. Comunicólogo com habilitação em jornalismo. Mas por ter o perfil de promover um bom relacionamento junto ao público, o habilitado em relações públicas já fazia algumas coisas que o assessor faz hoje.
A falta de vagas nas redações fez que boa parte dos jornalistas buscasse as agências de assessorias para poderem exercer seu trabalho. Atualmente é visto com preconceito por boa parte dos colegas que tiveram mais êxito atuando como repórter ou editor. Nessa nova velha função, (pois já existia desde 1909 quando o então Presidente Nilo Peçanha criou a Secção de Publicações e Biblioteca, para reunir e distribuir informações por meio de notas dos Ministérios da Agricultura, Indústria e Comercio), os jornalistas desempregados encontraram onde passar a crise da falta de vaga nos jornais.
Ao poucos foram tomando os lugares dos relações públicas, por principalmente ter a linguagem jornalística, escrevendo release e sugestões de pauta que eram aceitas pelos veículos com muito mais êxito. Hoje o assessor de imprensa é figura imprescindível no processo de captação de matérias. Ele não só difunde os acontecimentos de seu assessorado como facilita o trabalho dos repórteres promovendo entrevistas quando possíveis.
Para os que trabalham na busca diária da notícia, ter um colega atuando do outro lado, fornecendo pautas aproveitáveis, preparando e orientando os repórteres para quando determinada fonte estará disponível é de grande ajuda. Mesmo com todo esse auxilio, o assessor ainda é taxado como não jornalista. Isto ainda acontece pelo fato do assessor está vinculado a empresa que trabalha de forma tão evidente, a tratando como cliente.
Nessa lógica o mau assessor age como advogado, que defende sua clientela independente do erro que tenha cometido, criando verdades onde existem mentiras, omitindo fatos que vá comprometer a imagem da firma assessorada, produzindo uma defesa a ser apresentada num tribunal, que no caso seria a imprensa.
O fato de estar atrelado à empresa, também acontece com o profissional que trabalha nas redações, pois este também se submete à linha editorial do jornal que presta serviço, muitas vezes sendo obrigado a não publicar matérias que vá comprometer negativamente algum anunciante do jornal. Todos sabem que jornalismo independente não existe. Caso algum dia se tenha a desvinculação dos jornalistas das empresas jornalísticas, atuando como profissionais liberais, ainda assim, haverá o comprometimento do mesmo com sua própria consciência, que fará tendenciar seu comentário ou matéria a favor de seus ideais.
O jornalista português Carlos Fino discutiu no programa observatório da imprensa na TV (24/06/03), a questão da desvinculação do jornalista que atua como assessor de imprensa junto ao seu sindicato, para que não haja duvidas sobre sua nova atribuição, evitando assim o livre transito de uma função e outra. Conseqüentemente resolveria a falta de credibilidade vista em alguns profissionais que trabalham assessorando e produzindo matérias jornalísticas ao mesmo tempo. Com esta solução ficaria claro pra quem o jornalista/assessor estaria comprometido, com o público ou com empresariado.
Já os profissionais de relações públicas, estão mais preocupados com seus cargos, cada vez mais ameaçados. E reclama da crescente “invasão” dos jornalistas demitidos das redações, indo direto para as assessorias. Muitas vezes sem saber fazer um press release, um plano de comunicação, organizar uma coletiva ou mesmo elaborar um relatório. Sendo assim, sugere que seja feita pelo sindicato da categoria uma prova, ao estilo da OAB, para testar os conhecimentos do jornalista aspirante ao título de RP e, após a aprovação, conceder-lhe o direito de atuar na área.
Num mercado tão competitivo os princípios morais de cada profissão podem ser deixados de lado, dando lugar à necessidade de sobrevivência. Sendo assim, o que seria do jornalista que descobre um grande escândalo na empresa que assessora pela manhã e ter ou não que divulga-lo no jornal que trabalha à tarde? Este seria um dilema difícil de resolver para aquele mais ético na profissão, e bastante fácil para o que só está no ramo por dinheiro. Este certamente colocaria as duas opções na balança e escolheria a mais rentável.
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