29 junho, 2008

FORRÓ NÃO É ISSO

Se Luiz Gonzaga fosse vivo, provavelmente estaria amuado em algum canto do sertão do Araripe, decepcionado com o que estão fazendo com o ritmo em que era o maioral. O forró, essa deliciosa levada nordestina que é a melodia perfeita para escoltar esses dias de ternas fogueiras, coloridos balões e estrangeiras garoas, está sendo brutalmente desfigurado por essas bandas movidas a dançarinas de pernas grossas e cantores robotizados, que usam o tripé “cachaça, rapariga e gaia” para iludir milhares de jovens de que forró é isso. Deveriam ser processados por atentado aos nossos ouvidos.

Recentemente, o jornalista e escritor José Teles, crítico musical do Jornal do Commércio, de Recife, fez um ótimo artigo sobre o tema. Entre outras coisas, ele diz que esse tipo de musica está tão massificada na cabeça da meninada, que está criando uma perigosa cultura entre eles, na qual mulher é sempre safada e descartável, cachaça é pra beber até cair e carro não é apenas meio de transporte, mas lotação pra encher de raparigas. Ele prossegue dizendo que quando um cantor de uma banda chega a uma praça pública e pergunta se tem “rapariga na platéia”, alguma coisa está fora de ordem. E o que mais preocupa é que essa juventude, que tem a cabeça feita por esse tipo de música (musica?!), brevemente vai tomar as rédeas do poder. Ele está coberto de razão.

Eu cresci numa geração que foi moldada musicalmente pelas ondas do radio. De Orlando Silva até o novíssimo som que vinha de Liverpool, nada escapava ao bom e velho Transglobe Philco, que trazia até o sertão baiano todas as novidades sonoras que rolavam pelo mundo. Mas era o forró que predominava, tanto nas emissoras quanto no serviço de auto-falante de dona Nenê, que só vivia tocando Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e que tais. E só a partir dos anos 70 foi que o forró de duplo sentido começou a fazer sucesso, quando canções como Passei a noite procurando tu e Ele ta de olho é na butique dela estouraram no meio da garotada. Mas, comparadas com as de hoje, elas soam quase infantis.

Sinceramente, não sei até que ponto a música ajuda na formação de um garoto, nem no seu jeito de ser. Mas sei que ela o acompanhará pro resto da vida. Como agora, quando vez ou outra eu me pego assoviando velhas canções juninas, como aquela em que Gonzagão pede ao seu amor para olhar pro céu só pra ver como está lindo.
Já essa turma que abre a mala do carro e obriga toda a vizinhança a ouvir alguém berrando que vai beber cair e levantar me deixa bastante preocupado. Não só pela qualidade das canções que eles levarão consigo, mas principalmente, por que muitos seguem à risca esse horrível refrão e, depois de beber todas, saem dirigindo loucamente pelas ruas, correndo o risco de bater, cair e nunca mais levantar. Definitivamente, isso nunca foi forró. Muito menos o seu propósito.

Texto publicado em A Tarde no dia 12 de junho de 2008 na coluna Opinião pelo escritor Jânio Ferreira Soares(s.janio@globo.com)

VITÓRIA DO NORDESTE SOFRIDO

Não foi somente o leão que derrotou o Timão, foi o gabiru que atropelou o engravatado, a carroça que ultrapassou a BMW, a casa de pau-a-pique que soterrou o arranha céu.
Foi a cacimba que inundou a piscina, a farinha que digeriu o escargot, a verminose ganhou da enxaqueca, o barro que sujou o asfalto, a pinga que embebedou o uísque, o fumo de rolo que enfumaçou o charuto cubano.


O carro-de-boi voou mais alto que o helicóptero e o Learjet, a rádio AM falou mais alto que a Vênus Platinada, o tatu mordeu o shintzu, a renda emaranhou a seda, a rapadura amargou o petit gateu, a sandália de couro pisou no scarpin.


Mas que o titulo, o triunfo, o triunfo do Sport sobre o Corinthians representou a vitória do Nordeste sofrido, faminto e tripudiado sobre o Sul Maravilha, a prepotência do já-ganhou.
A voz constrangida de Cleber Machado anunciando o título rubro-negro como se estivesse narrando um enterro diz tudo. “Cazá, cazá, cazá, a turma é da boa, é mesmo da fuzarca, Sport, Sport, Sport!”

Texto publicado em A Tarde no dia 17 de junho de 2008, na coluna Megafone por Duda Sampaio de Lauro de Freitas (Ba).

27 junho, 2008

MANEIRA LEGAL DE CONSCIÊNCIA

"Malecencia" é um sigla, e meu pseudônimo que significa: Maneira Legal de Consciência; e como o próprio nome diz, busca atingir aqueles que procuram se ater aos problemas da sociedade, problemas que são gerados devido a pouca formação política de nós brasileiros, muitas vezes preocupados com questões imediatistas, as quais só dizem respeito a própria pessoa.

Este Blog é uma compilação das matérias que fiz quando comecei minha carreira no Jornalismo, há um ano e meio atrás. Aproveitei alguns dos textos que publiquei nas revistas do Iate Clube da Bahia (Yacht) Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção da Bahia (ACOMAC) e da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) além de outros que produzi para uso acadêmico na Faculdade da Cidade como forma de avaliação.

No blog também coloco assuntos que ja repercutiram, e que chamaram minha atenção, dando um outro viés à notícia, espero que gostem!

20 junho, 2008

DIFUSÃO DA CULTURA PELA TV FOI TEMA DE DEBATE NA FACULDADE DA CIDADE

Foto: Anna Carolina Lima

Wagner Ferreira

A Cultura e sua difusão dentro do Jornalismo foi tema de discussão nesta quarta-feira (18) na Faculdade da Cidade dentro do I Seminário de Jornalismo Especializado em Cultura। A turma do 5º semestre do curso de Jornalismo/noturno foi a responsável pela organização do evento, e reuniu nomes importantes dentro desse segmento, como o da presidente do grupo de percussão feminina Didá e Jornalista, Viviam Caroline; o artista Ed Bala, e a conceituada jornalista Delza Schaun, produtora de diversos documentários voltados para a Cultura.

O debate foi iniciado por Ed Bala, que contou um pouco de sua trajetória como artista, garoto propaganda e cantor, aproveitando para apresentar suas músicas compostas pelo grupo Ed Bala e Os Bala na Agulha, banda de forró a qual faz parte. Bala descontraiu os presentes cantando duas de suas músicas iniciando a noite com bastante irreverência. Depois foi a vez de Viviam Caroline, a frente da Didá há 15 anos. Caroline veio para a palestra com a banda, e falou da dificuldade da mulher em aparecer na mídia de uma forma que não seja apelativa, expondo o corpo, deixando outros atributos mais importantes a margem.

Ela defendeu mais espaço para os eventos culturais locais dentro das programações das TV’s, bem como seja retratado com mais veracidade, e não de forma alegórica, formato bastante usado pelas TV’s predominantemente comerciais. “Acho que as manifestações culturais na Bahia são descaracterizadas já nas difusões da maioria das TV’s do Estado, com exceção da TVE, que procura transmitir a Cultura em sua essência, mostrando sua importância religiosa e não só seus festejos,” criticou Caroline.

Delza Schaun deu uma aula de história da Cultura baiana, transmitida através da TV. Schaun lembrou nomes como o do fotógrafo francês, Pierre Verger e Odorico Tavares, principal representante dos Diários & Associados no Estado, responsável pela implantação da primeira emissora de televisão da Bahia. A jornalista também respondeu aos questionamentos dos alunos, inclusive sobre o Candomblé, que junto com a capoeira, foi perseguido pelas autoridades baianas com a conivência da imprensa até a década de 50.

A responsabilidade das emissoras de TV’s em transmitir programação local, seguindo determinação do Ministério das Comunicações, também entrou na pauta de seu discurso. “O Candomblé, por exemplo, só foi inserido na programação das Tv’s depois que artistas como Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia mostraram que se identificavam com a religião. Antes, somente a Cultura Nordestina era retratada com o filmes de Glauber Rocha”, explicou. A noite de debates foi encerrada ao som dos tambores da banda Didá, que estremeceram as paredes do Edifício Nobre.

Foto: Anna Carolina Lima
Banda Didá em apresentação no auditório da Faculdade da Cidade